11.10.08

I pensionati della memoria, 1914

Os aposentados da memória, de 1914, é uma novela de Luigi Pirandello que conta a história de um homem que é assombrado pelas lembranças daqueles que já morreram. Abaixo, um trecho:
[...]
Quanto a mim, todos os mortos que acompanho ao campo-santo retornam atrás de mim.
Fingem que estão mortos dentro do caixão. Ou talvez de fato estejam mortos para si. Não para mim, acreditem! Enquanto tudo termina para vocês, para mim nada terminou. Todos retornam comigo, para minha casa. A casa está cheia. Acreditam que estão mortos. Mortos nada! Todos vivos. Vivos como eu, como vocês, mais do que antes.
No entanto - isto sim - estão desiludidos.
Porque, pensem bem: que parte deles pode estar morta? Aquela realidade que eles deram - nem sempre igual - a si mesmos, à vida. Oh, uma realidade muito relativa, acreditem. Não era a de vocês, não era a minha. Com efeito, eu e vocês vemos, pensamos e sentimos, cada qual a seu modo, a nós mesmos e à vida. O que significa que atribuímos, cada qual a seu modo, uma realidade a nós mesmos e à vida; nós a projetamos para fora e acreditamos que, assim como é nossa, também é de todos; e alegremente vivemos em meio a ela e caminhamos seguros, com a bengala na mão e o charuto na boca.
Ah, meus senhores, não confiem demais! Basta apenas um sopro para levar embora essa realidade! Não vêem que ela muda dentro de vocês continuamente? Muda assim que se começa a ver, a ouvir e a pensar um tantinho diferentemente de antes; de modo que, o que antes lhes parecia ser a realidade, agora percebem que era uma ilusão. Mas será que há outra realidade fora dessa ilusão? Mas o que é a morte senão a desilusão total?
Mas aí esta: se há tantos pobres desiludidos entre os mortos, devido à ilusão que formaram a respeito de si e da vida, por esta ilusão que deles ainda conservo lhes pode advir o consolo de viverem para sempre, enquanto eu viver. E eles aproveitam! Garanto que aproveitam.
[...]
Impossível não se lembrar de Shakespeare e de Deleuze ao ler o penúltimo e o último parágrafos, respectivamente. A tradução do texto é de Maurício Santana Dias e se encontra num volume daquela coleção de contos e novelas que a CiadasLetras tem publicado nos últimos anos.

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