13.10.08

Exemplos de Obras

Über die Stille (1996), da artista sonora alemã Christina Kubisch.
Nesse trabalho a artista imprime trechos de textos de poetas do romantismo alemão em pranchetas de acrílico transparente. A temática dos poemas é o silêncio. Os textos são impressos com uma tinta fluorescente e só podem ser visualizados por meio da incidência de luz. As pranchetas são dispostas lado a lado em um ambiente escuro e silencioso, somente iluminado por pequenas lâmpadas ultravioletas afixadas nas pranchetas. Em uma versão da instalação, nenhum som é artificialmente acrescentado, ficando a cargo dos espectadores, ao lerem os textos, fazerem uma espécie de exercício de escuta, tanto com a sua memória quanto com os sons de uma sala silenciosa. Mas há também uma outra versão em que a artista insere alto-falantes escondidos tocando ruídos de computadores (impressora, teclados, ruídos de processamento, etc) que, em amplitude baixa, produzem uma versão contemporânea do silêncio, fazendo referência aos sons que povoam os ambientes que freqüentamos cotidianamente.

Foto da instalação Über die Stille de Christina Kubisch, 1996

Ao dispor textos em uma sala escura e quieta, Christina Kubisch estimula os seus espectadores a exercitarem sua escuta. Para ela, “quando os poetas falam sobre silêncio, eles estão sempre falando sobre escuta. Silêncio significa a mesma coisa que uma escuta concentrada na presença de sons.” (Kubisch 2000: 83). É uma espécie de escuta metafórica da memória, no momento em que se acessa a imaginação. Cada espectador poderia preencher aquele espaço sonoramente da maneira que quisesse, até porque as frases e palavras usadas geravam uma riqueza de interpretações estimulando a escuta e imaginação do espectador, como por exemplo: memória, imaginação, escuta, silêncio.

Detalhe da instalação Über die Stille de Christina Kubisch, 1996

É interessante notar a semelhança conceitual e material de Über die Stille com a instalação Sob Neblina [em segredo] (2007) da artista plástica mineira Marilá Dardot. Nesta última, a artista também utiliza textos cuja temática é o silêncio. As frases vão formando o percurso pelo qual o visitante precisa atravessar para chegar ao fim da instalação, um "luminoso silêncio" , que é marcado pelas frases escritas em jato de areia nas portas de vidro, nem sempre de fácil leitura. Tanto em Über die Stille quanto em Sob Neblina [em segredo] o espectador deve se aproximar dos textos, ou ficar em uma posição determinada, para que possa desvendar o que está escrito. Isto pelo fato do que no primeiro caso o texto é escrito com uma tinta fluorescente que só aparece se iluminado e no segundo pelo fato da artista ter escrito os textos, usando vidro jateado, cuja leitura só é efetivada com a insistência do observador em achar posições possíveis de visualizar o texto em função de uma iluminação tênue que ora incide diretamente no vidro, eliminando o contraste, ora é insuficiente para a leitura.

Detalhe da instalação Sob Nebliuna [em segredo] de marilá Dardot, 2007

Em Sob Neblina [em segredo], o ambiente também é silencioso, e em todas as frases esse tema é recorrente. Em um certo sentido, percorrer a instalação assemelha-se a passar por uma publicação, como se estivéssemos ‘atravessando as páginas’. É interessante, pois nos dois trabalhos a imersão toma conta da experiência, podendo tornar o percurso um tanto ritualístico. No caso do trabalho da Marilá Dardot, é na própria leitura de cada frase que o caminho se realiza: a cada porta que se abre, até que se chegue ao fim, realiza-se um exercício do silêncio.
Ambos os trabalhos, de certa forma, impõem uma experiência silenciosa, como também recorrem à memória e bagagens pessoais dos espectadores, na medida em que trabalham com frases abertas e ambíguas, na tentativa de despertar a imaginação e as diferentes escutas do espectador. E para reforçar essa sensação os dois trabalhos usam ambientes altamente silenciosos.

Jacques Rancière

Ora corredores e labirintos habitados por alto-falantes e telas, ora espaços abertos naturais de vasta amplitude, ora paisagens interferidas por sons extrínsecos, ora objetos plásticos que formam uma arquitetura e esculpem um espaço. Eles são também instrumentos de produção de imagens e sons, de superfícies onde eles se difundem, mas ainda metáforas das atividades que os produziram, com a intensidade de sua maneira de criar mundos. Sobre essas superfícies, dentro desses volumes, restos de história vão e vêm, engendrados pelos sons, programados por passantes que se deslocam sobre o espaço. (Rancière 2002: 25)

Rizoma e formas de apresentação

Caro Funes,
talvez esse software possa ser interessante.

http://www.thebrain.com/#-50

Oralidade

Paul Zumthor afirma que a voz da tradição, isto é, a poesia oralizada, funciona como o fio que dá visibilidade e sustenta a frágil continuidade da vida humana, é a poesia oral que impede que os laços metafísicos do homem se rompam e advenha o abismo sem sentido e sem nome: a morte (ZUMTHOR, 1993: 142).

Esquizofonia

Termo criado pelo compositor canadense Murray Schafer para se referir ao som deslocado de sua fonte emissora.
A pedidos:
"Formado pela justaposição de esquizo, do grego schízein, fender, separar; e fonia, do grego phoné, som, voz". (Obici, G. Condição da Escuta, p. 47)

Esse conceito de separação do som de sua fonte geradora não é um dado sintomático que surgiu com a invenção de tecnologias de captação sonora (o fonógrafo, em 1877, por exemplo). Esses equipamentos traziam a possibilidade de encapsular e guardar som, por assim dizer, criar memórias artificiais.

"Com o telefone e o rádio, o som já não estava mais ligado ao seu ponto de origem no espaço; com o fonógrafo, ele foi liberado de seu ponto original no tempo". Schafer [1977] (2001).

Efemeridade da Gravação - Captura de sons

No século XVI, Rabelais em seu livro de Pantagruel escreveu e descreveu uma metáfora sobre os meios de conservar e reproduzir os sons e as palavras.

'Memory Space' - Simon Emmerson

I. MEMORY AND SPACE

Space is not simply a geometric ‘thing out there’. We are born with sight and sound, touch, taste and smell ready to initiate our particular construction of it. Space would not be perceptible without objects, textures, sounds. The sonic arts have tended to separate out taste and smell (although they have crept back in in recent more open social musical spaces) – and touch, too, unless you are a performer.

But memory is also spatial in two senses. Neuroscience is slowly unlocking the secrets of the most complex system observable by us – the human brain. But the nature of memory within the brain is not much understood – except that the questions are becoming more sophisticated and it is evidently distributed in many locations. But there is also a deeper link which has been exploited over some thousands of years – most extensively before writing (and more specifically printing) allowed us a short cut.

This is best described in classical, mediaeval and renaissance practices of mapping places, images and other objects of memory onto an imaginary stage in the mind – the so-called Memory Theatre. This was most especially examined in Frances Yates’s book The Art of Memory (1966/1992 [Reference 4]). Starting from ideas of rhetoric inherited directly from the Greeks through Roman sources we start from the idea that natural
memory can be improved or augmented through the exercise of ‘artificial memory’. This is created from places and images. A place (locus) is easily memorised – a construction, a characteristic location. Images are
‘forms, marks or simulacra of what we wish to remember’ [Reference 4: p.22]. There have been developed rules for places and rules for images. The loci relate to each other such they can be walked through in the imagination and even a particular building is to be seen as the best recepticle for the totality of the loci. Each fifth locus is given a particular mark in its characteristic. The building should be empty since crowds might distract! This allows us to construct two kinds of artificial memory - memory for things and memory for words. ‘Things’ are not objects in the contemporary sense but can include the subjects of speech - ‘the ideas we are trying to express’ - while words are simply (but importantly) a vehicle to convey that and often have to be memorised in the ‘correct’ order. In brief, the art of artificial memory lies in the direct association of image with locus and the ability to recall one through ‘visiting’ the other. By the Renaissance period the building within which the memory locations were found was very often constructed as a kind of theatre with five doors, five columns and other easily memorised characteristics. Yates discusses many of these examples and their complex historical interconnections – including highly dangerous rivalries, accusations of magic, heresy and the like – such as those of Giordano Bruno (late 16th C) and Robert Fludd (early 17th C).

http://www.smc08.org/index.php?option=com_content&task=view&id=34&Itemid=39

"O neurocientista que ninguém esquece" ganhou o prêmio Conrado Wessel 2008 na categoria Ciência Geral

http://revistapesquisa.fapesp.br/?art=3669&bd=1&pg=1&lg=

A arte de esquecer

Link que resume as idéias do livro de Izquierdo.

http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40142006000300024&script=sci_arttext

Funes para Izquierdo

"Funes, o memorioso relata a história de um rapaz uruguaio do interior, que, a partir de um acidente, ficou com uma memória perfeita. Podia recordar a cor exata das nuvens na hora em que tal ou qual acontecimento preciso teve lugar. Podia recordar, em detalhe, a forma dos galhos de uma árvore num dia de vento. Podia recordar com precisão total um dia inteiro de sua vida. Claro que, para este último, necessitava de um dia inteiro... Sua extraordinária capacidade, entretanto, não lhe permitia deter-se por um momento sequer numa determinada memória e analisá-la, comparando-a com outras. Borges, que inventou este personagem, raciocinou que a extrema exatidão e abundância de sua memória, que o impediam de esquecer qualquer detalhe, impediam-n0 também, justamente por isso, de poder generalizar e, portanto, poder pensar. Para pensar, diz Borges, é necessário poder esquecer, para assim poder generalizar."

Por que e para que esquecemos?


"Esquecemos, talvez, em parte porque os mecanismos que formam e evocam memórias são saturáveis. Não podemos fazê-los funcionar constantemente de maneira simultânea para todas as memórias possíveis, as existentes e as que adquirimos a cada minuto. Isso obriga naturalmente a perder memórias preexistentes, por falta de uso, para dar lugar a outras novas. (...) Não sabemos se os mecanismos através dos quais se guardam no cérebro os elementos principais de cada memória são ou não são saturáveis. É até possível que não o sejam, já que há tantos neurônios e tantas conexões entre eles. (...) Mas há inúmeras evidências recentes de que, na hora de sua formação e na hora de sua evocação, os sistemas cerebrais que se encarregam das memórias de longa duração, fundamentalmente uma estrutura do lobo temporal chamada hipocampo, são altamente saturáveis." In: "A arte de Esquecer" (2004: 21-22)

Lembrar é possível, esquecer é preciso!

Iván Izquierdo, médico e neurocientista.

Memória de elefante ou memória de Funes?


"Então vi a face da voz que toda a noite havia falado. Ireneo tinha dezenove anos; havia nascido em 1868; pareceu-me tão monumental como o bronze, mais antigo que o Egito, anterior às profecias e às pirâmides. Pensei que cada uma das minhas palavras (que cada um dos meus gestos) perduraria em sua implacável memória; entorpeceu-me o temor de multiplicar trejeitos inúteis."

Funes medíocre

"Havia aprendido sem esforço o inglês, o francês, o português, o latim. Suspeito, contudo, que não era muito capaz de pensar. Pensar é esquecer diferenças, é generalizar, abstrair. No mundo abarrotado de Funes não havia senão detalhes, quase imediatos."

Fofocando

Aqueles três ali em baixo estão falando mal de alguém?