Nesse trabalho a artista imprime trechos de textos de poetas do romantismo alemão em pranchetas de acrílico transparente. A temática dos poemas é o silêncio. Os textos são impressos com uma tinta fluorescente e só podem ser visualizados por meio da incidência de luz. As pranchetas são dispostas lado a lado em um ambiente escuro e silencioso, somente iluminado por pequenas lâmpadas ultravioletas afixadas nas pranchetas. Em uma versão da instalação, nenhum som é artificialmente acrescentado, ficando a cargo dos espectadores, ao lerem os textos, fazerem uma espécie de exercício de escuta, tanto com a sua memória quanto com os sons de uma sala silenciosa. Mas há também uma outra versão em que a artista insere alto-falantes escondidos tocando ruídos de computadores (impressora, teclados, ruídos de processamento, etc) que, em amplitude baixa, produzem uma versão contemporânea do silêncio, fazendo referência aos sons que povoam os ambientes que freqüentamos cotidianamente.
Foto da instalação Über die Stille de Christina Kubisch, 1996
Ao dispor textos em uma sala escura e quieta, Christina Kubisch estimula os seus espectadores a exercitarem sua escuta. Para ela, “quando os poetas falam sobre silêncio, eles estão sempre falando sobre escuta. Silêncio significa a mesma coisa que uma escuta concentrada na presença de sons.” (Kubisch 2000: 83). É uma espécie de escuta metafórica da memória, no momento em que se acessa a imaginação. Cada espectador poderia preencher aquele espaço sonoramente da maneira que quisesse, até porque as frases e palavras usadas geravam uma riqueza de interpretações estimulando a escuta e imaginação do espectador, como por exemplo: memória, imaginação, escuta, silêncio.
Detalhe da instalação Über die Stille de Christina Kubisch, 1996
É interessante notar a semelhança conceitual e material de Über die Stille com a instalação Sob Neblina [em segredo] (2007) da artista plástica mineira Marilá Dardot. Nesta última, a artista também utiliza textos cuja temática é o silêncio. As frases vão formando o percurso pelo qual o visitante precisa atravessar para chegar ao fim da instalação, um "luminoso silêncio" , que é marcado pelas frases escritas em jato de areia nas portas de vidro, nem sempre de fácil leitura. Tanto em Über die Stille quanto em Sob Neblina [em segredo] o espectador deve se aproximar dos textos, ou ficar em uma posição determinada, para que possa desvendar o que está escrito. Isto pelo fato do que no primeiro caso o texto é escrito com uma tinta fluorescente que só aparece se iluminado e no segundo pelo fato da artista ter escrito os textos, usando vidro jateado, cuja leitura só é efetivada com a insistência do observador em achar posições possíveis de visualizar o texto em função de uma iluminação tênue que ora incide diretamente no vidro, eliminando o contraste, ora é insuficiente para a leitura.
Detalhe da instalação Sob Nebliuna [em segredo] de marilá Dardot, 2007
Em Sob Neblina [em segredo], o ambiente também é silencioso, e em todas as frases esse tema é recorrente. Em um certo sentido, percorrer a instalação assemelha-se a passar por uma publicação, como se estivéssemos ‘atravessando as páginas’. É interessante, pois nos dois trabalhos a imersão toma conta da experiência, podendo tornar o percurso um tanto ritualístico. No caso do trabalho da Marilá Dardot, é na própria leitura de cada frase que o caminho se realiza: a cada porta que se abre, até que se chegue ao fim, realiza-se um exercício do silêncio.
Ambos os trabalhos, de certa forma, impõem uma experiência silenciosa, como também recorrem à memória e bagagens pessoais dos espectadores, na medida em que trabalham com frases abertas e ambíguas, na tentativa de despertar a imaginação e as diferentes escutas do espectador. E para reforçar essa sensação os dois trabalhos usam ambientes altamente silenciosos.
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