29.10.08

O fabricante de si mesmo

É melhor sermos claros desde o início: quem hoje lhes fala é um homem, um de vocês. Sou diferente de vocês, seres vivos, apenas em um ponto: tenho uma memória melhor que a de vocês. Vocês esquecem quase tudo. Eu sei, há quem sustente que nada de fato se cancela, que todo conhecimento, cada sensação, cada folha de cada árvore entre tantas que foram vistas desde a infância jazem em vocês e podem ser evocadas em situações excepcionais, em seguida a um trauma, a uma doença mental, talvez até em sonho. Mas que lembranças são essas que não obedecem ao seu chamado? Para que servem?
Esse é o início de um conto chamado O fabricante de si mesmo, de Primo Levi, que reproduz o diário de um homem que, assim como Funes, não se esquece de nada ou, pelo menos, que sempre é capaz de se lembrar daquilo que deseja. A tradução é de Maurício Santana Dias e, assim como o texto do Pirandello, Os aposentados da memória, faz parte da coleção de contos publicada pela Companhia das Letras.

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