30.10.08

Salão principal do Hotel - Memória?


Berlin, Potsdamer Platz.

Memória - Kunsthaus Tachelles



Quantas camadas possíveis?

Berlin, Oranienburger Strasse, 54-56

www.tacheles.de

29.10.08

Do tempo

Duas postagens quase simultâneas... Não é fantástico, Funes? Chego a pensar se não te dividiste em dois, como se diante do espelho deleuzeano. Ou, quem sabe, o que é bem mais provável, em três.

Contemporâneo? Pós-Moderno? Que raios é essa condição nossa...?


"O fechamento da representação, que repercute na crítica do sujeito, e de tudo que decorre daí, é o tema recorrente do trabalho moderno. No entanto, aquilo que as designações pós-moderno e contemporâneo recobrem ainda implicam a reativação dos dispositivos e referências modernas, não, contudo, a sua restauração. Então, nesta situação, em que o funcionamento dos elementos constitutivos da modernidade cultural - o indivíduo, o mercado, a tecnociência - foram radicalizados, hiperconcentrados, como é possível produzir dissonâncias, resistências, intervenções, ao estado das coisas? Pois "a cena contemporânea" é sintomática: paradoxalmente, combina a supressão de limites com a demanda por normas, a funcionalidade exacerbada e comportamentos mágicos, a diversidade e a busca por identidades. Isto ainda configura uma "derradeira possibilidade, senão de uma representação, pelo menos de uma dramaturgia simbólica" .
Finalmente. O que se está tentando configurar aqui, é uma espécie de "investigação", algo em curso, sugerido como uma abertura a outras posições, enunciadas nesta enunciação claudicante. Rigorosamente falando, aqui não se determina um conhecimento; ao contrário, decepciona-se exigência de conhecimento. Aqui comparecem restos de um esforço de conhecimento. Mas estes restos são motivados e mobilizados por necessidades e paixões; por isso surgem como acontecimento. Avançamos por tentativas, empurrados por um encadeamento aberto, em que o já pensado volta como impensado, sob o estímulo de alguma singularidade que se manifesta fortuitamente. Pois os pensamentos, diz Lyotard, são nuvens."

FAVARETTO, C. F. . 'Entre o Moderno e o Contemporâneo.' Tempo & Memória, São Paulo, v. 4, p. 49-66, 2005.

Palestra pra lá de afetuosa, no sentido deleuzeano...
A quem interessar, vale ler o texto completo, disponível em:

http://cursos.unisanta.br/artes/artigos/beatriz/artbeatriz6.htm

O fabricante de si mesmo

É melhor sermos claros desde o início: quem hoje lhes fala é um homem, um de vocês. Sou diferente de vocês, seres vivos, apenas em um ponto: tenho uma memória melhor que a de vocês. Vocês esquecem quase tudo. Eu sei, há quem sustente que nada de fato se cancela, que todo conhecimento, cada sensação, cada folha de cada árvore entre tantas que foram vistas desde a infância jazem em vocês e podem ser evocadas em situações excepcionais, em seguida a um trauma, a uma doença mental, talvez até em sonho. Mas que lembranças são essas que não obedecem ao seu chamado? Para que servem?
Esse é o início de um conto chamado O fabricante de si mesmo, de Primo Levi, que reproduz o diário de um homem que, assim como Funes, não se esquece de nada ou, pelo menos, que sempre é capaz de se lembrar daquilo que deseja. A tradução é de Maurício Santana Dias e, assim como o texto do Pirandello, Os aposentados da memória, faz parte da coleção de contos publicada pela Companhia das Letras.

28.10.08

Maravilha-te, memória!

De Fernando Pessoa:
Maravilha-te, memória
Lembras o que nunca foi
E a perda daquela história
Mais que uma perda me dói
Meus contos de fadas meus
Rasgaram-lhe a última folha
Meus cansaços são ateus
Dos deuses da minha escolha
Mas tu, memória, condizes
Com o que nunca existiu
Torna-me aos dias felizes
E deixa chorar quem riu

27.10.08

THE T-SHIRT ISSUE


Berlin-based Mashallah Design & Linda Kostowski have created items of clothing by scanning human bodies and using the data to create sewing patterns. The human form is turned into 3D patterns of polygons, which are then turned into 2D files and used to laser cut fabric. The project was on show at Create Berlin during the London Design Festival earlier this month.

Para saber mais sobre o processo de produção dessa roupa: http://www.yatzer.com/1271_the_t-shirt_issue

Aliás, o www.yatzer.com é um dos melhores blogs de design contemporâneo que encontrei nos últimos tempos.

24.10.08

28 Bienal de São Paulo

Entre os dias 26 de outubro e 06 de dezembro de 2008 ocorrerá a 28ª Bienal de São Paulo – “em vivo contato”.

Como uma forma de protesto e denúncia da crise na instituição o tema do vazio está sendo abordado - são exatamente 42 dias de exposição, como uma quarentena.

Leia em: http://oglobo.globo.com/cultura/mat/2007/11/09/327109424.asp

Há o ciclo de encontros “A Bienal de São Paulo e o Meio Artístico Brasileiro – Memória e Projeção. Coordenado pela curadora e crítica de arte Luisa Duarte, e busca mapear a memória oral e dispersa do meio artístico brasileiro em relação à Bienal de São Paulo e as demais Bienais.

Memória externa

Caro Funes


De Borges, em A rosa profunda:
"A meta é o esquecimento. Eu cheguei antes".

23.10.08

Eloisa to Abelard

A história que se escreveu abaixo em uma publicação que leva o mesmo título desta é apenas uma das versões sobre o trágico romance de Eloisa e Abelardo. O mais provável, contudo, é que os dois amantes tenham sido separados não tanto pela diferença de idade ou porque Abelardo fosse padre, mas tão somente pela ofensa à honra de Eloisa, que não se manteve pura até o matrimônio e que gerou um filho de uma relação proibida. A história certamente foi um episódio vergonhoso para a família de Eloisa, principalmente para o tio, com quem ela morava e que autorizava, por confiança extrema que tinha em Abelardo, que a moça e seu preceptor ficassem sozinhos, sem nenhuma vigilância. Isso justifica que ele, o tio, tenha mandado que se castrasse Abelardo, coisa que, na época, constituía uma forma de lavar a mácula à honra da moça e da família e, é claro, também uma forma de vingança e punição.

22.10.08

Terra à vista

Que sucesso, marinheiros!
Saudações deste Funes que mora entre as serras.

20.10.08

palavras lançadas ao vento


enquanto isso no banheiro da fau....

Cinqüenta e cinco


Diferença e repetição

Fernando Pessoa, 1932.

Do vale à montanha
Da montanha ao monte
Cavalo de sombra
Cavaleiro monge
Por casas, por prados
Por quinta e por fonte
Caminhais aliados

Do vale à montanha
Da montanha ao monte
Cavalo de sombra
Cavaleiro monge
Por penhascos pretos
Atrás e defronte
Caminhais secretos

Do vale à montanha
Da montanha ao monte
Cavalo de sombra
Cavaleiro monge
Por plainos desertos
Sem ter horizontes
Caminhais libertos

Do vale à montanha
Da montanha ao monte
Cavalo de sombra
Cavaleiro monge
Por ínvios caminhos
Por rios sem ponte
Caminhais sozinhos

Do vale à montanha
Da montanha ao monte
Cavalo de sombra
Cavaleiro monge
Por quanto é sem fim
Sem ninguém que o conte
Caminhais em mim

Fabulação

Segundo Deleuze, sempre que a arte apela à memória, ela o faz, na verdade, a uma outra coisa - que em "O que é filosofia?" denominou-se "fabulação" -, e sempre que pensamos estar produzindo memórias, nós estamos, na verdade, envolvidos em um "tornar-se". Para Deleuze, é sempre o presente - e o futuro -, nunca o passado, que está em foco: "Nós não escrevemos com as memórias da infância, mas através de blocos de infância que são tornar-se-criança do presente".
A referência é: DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Felix. What is philosophy? Trad. H. Tomlinson e G. Burchill. Londres: Verso, 1994. p. 168.

19.10.08

O espelho de Deleuze















O que forma a imagem do espelho de cristal é a operação mais fundamental do tempo: dado que o passado não se constitui depois do presente que ele foi, mas simultaneamente, o tempo deve dividir-se, a cada momento, em dois, presente e passado, que diferem um do outro em natureza, ou, o que nos leva ao mesmo ponto, o presente deve dividir-se em duas direções heterogêneas, uma que se abre em direção ao futuro e outra que se perde dentro do passado.

A referência é: DELEUZE, Gilles. Cinema 2: the time image. Londres: Continuun Press, 1989.

18.10.08

Proust

Il semble que les événements soient plus vastes que le moment où ils ont lieu et ne peuvent y tenir tout entiers. Certes, ils débordent sur l'avenir par la mémoire que nous en gardons, mais ils demandent aussi une place au temps qui les précède. Certes, on dira que nous ne les voyons pas alors tels qu'ils seront, mais dans le souvenir ne sont-ils pas aussi modifiés?

Hamlet




The time is out of joint.

17.10.08

Absolut

A Absolut lança de tempos em tempos garrafas comemorativas:
Que tal?


Absolut Disco

Bottles


Proust

Notre mémoire et notre cœur ne sont pas assez grands pour pouvoir être fidèles.

16.10.08

Cartas e bits

"Documentos como coleções de cartas e esboços são denominados efêmeros, ou como aqueles documentos transitórios que cercam uma pessoa, que são incidentais na vida daquela pessoa, e não estão necessariamente relacionados à obra da vida de um profissional. Ao folhear as páginas desse livro, o volume das cartas trocadas entre os dois amantes me é revelado: a importância desse documento para mim não esta na relevância histórica dos escritos contidos em suas páginas, mas na própria existência do livro". (...) Qual é a natureza dos rastros históricos associados à era digital, e como a história será construída já que arquivos on-line transitórios evoluem ao longo do tempo? A perda do materialismo na comunicação diária resultará numa era em que a história refletirá na tradição oral?
(Lichty, Patrick. Histórias de desaparecimento/ desaparecimentos de histórias. A efemeridade das mídias digitais como rastros de história. In: Domingues, Diana. Arte e Vida no século XXI: tecnologia, ciência e criatividade. São Paulo: Editora Unesp, 2003, p.305-306)

O livro a que ele faz referência traz a correspondência trocada entre os artistas Wassily Kandinsky e Gabriele Münter.

15.10.08

O tempo

















Essa gravura de M.C. Escher representa bem a simultaneidade do presente e do passado na passagem do tempo.

Deleuze em inglês

the virtual memory
is real without being actual
is ideal without being abstract
but is not an illusion

Auto-análise

Até o momento, meu caro Funes, contas já com quarenta e duas publicações, excluída, claro está, esta mesma, de número quarenta e três. Considerando que este blog tem apenas seis dias de existência, não terás dificuldade - apesar de tua prodigiosa memória que pouco tempo te deixa para as reflexões - para verificar que tens feito, em média, sete postagens por dia. É mesmo fabuloso. Chego a pensar se não tens alguém que te ajude, uma equipe, talvez...

Para maiores

Recordo-me de quando este blog continha apenas fotos de inocentes garrafas, sem essas insinuações mórbidas e maliciosas, com padres que seduzem donzelas e travestis que se suicidam na banheira. Bons tempos aqueles...

14.10.08

Deleuze e a memória

Descoberto o autor do texto:
Keith Ansell Pearson
http://www2.warwick.ac.uk/fac/soc/philosophy/staff/pearson/

Conteúdo Adulto - Brice Dellsperger



















O vídeo dura quase 20 minutos, tem que ver inteiro... hahaha, sério.

Vejam também o site do artista com outros vídeos:
http://www.bricedellsperger.com/
P.s. O artista (Brice) é o da foto.
Link

Eloisa to Abelard

Esse poema de Alexander Pope foi publicado no início do século XVIII e reproduz uma das cartas de Eloisa para Abelardo. Do trecho que citei mais abaixo, com o título Eduardo e Mônica, uma tradução. Desculpem a falta das rimas, e atentem para o trecho the world forgetting, que, em inglês, tanto pode significar esquecendo o mundo, como se escreveu, como o mundo esquecendo, como se poderia ter escrito.
Quão alegre é o imaculado destino da Vestal!
Esquecendo o mundo pelo mundo esquecido.
Eterno brilho da mente sem lembrança!
Toda prece se ouve, e todo desejo se abranda...
Eloisa e Abelardo são, assim como Sansão e Dalila, Ulisses e Penélope, Dante e Beatriz e Romeu e Julieta, um casal famoso da literatura mundial. Os dois viveram na França, na primeira metade do século XII, e mantiveram um romance proibido, primeiro porque Abelardo era cerca de trinta anos mais velho que Eloisa e, segundo, porque ele era padre. Grávida, Eloisa não pôde mais esconder as relações que mantinha com o pároco, o que o condenou, a ele, à perda da batina, à castração e à reclusão num mosteiro, e, a ela, à vergonha, ao silêncio e à impossibilidade de unir-se novamente ao homem amado. Os corpos de Eloisa e Abelardo foram enterrados juntos, em Paris, no cemitério de Père-Lachaise.

Deutsch

Atendendo a pedidos, a tradução dos textos em alemão do título anterior:
Primeiro, o nome da obra, Über die Stille, que significa Sobre o silêncio. Observe, nas duas línguas, o sentido duplo da preposição über/sobre, que tanto pode indicar uma referência àquilo de que se trata, o silêncio, quanto uma posição acima (ou além) dele.
Segundo, o poema, Ich verstand die Stille des Aethers, der Menschen Worte verstand ich nie, que pode ser traduzido, com boa aproximação, como Eu compreendi o silêncio etéreo, mas nunca as palavras dos homens. Aqui é importante notar o plural empregado para das Wort [a palavra, em alemão]: no lugar de die Wörter, que indica um conjunto de palavras que, como num dicionário, não mantêm qualquer relação de significado entre si, utilizou-se die Worte, que indica um texto ou uma fala, ou seja, um conjunto de palavras com significado e, portanto, passível de compreensão. Essa contradição, sutil no texto em alemão, escapa à tradução portuguesa.
Aos curiosos, a garrafa, em alemão, é die Flasche, e o nome deste blog, três fora da garrafa, é drei aus der Flasche ou drei aus der Flasche heraus, dependendo de que os três sempre tenham estado fora da garrafa ou, uma vez dentro, dela saíram.

13.10.08

Exemplos de Obras

Über die Stille (1996), da artista sonora alemã Christina Kubisch.
Nesse trabalho a artista imprime trechos de textos de poetas do romantismo alemão em pranchetas de acrílico transparente. A temática dos poemas é o silêncio. Os textos são impressos com uma tinta fluorescente e só podem ser visualizados por meio da incidência de luz. As pranchetas são dispostas lado a lado em um ambiente escuro e silencioso, somente iluminado por pequenas lâmpadas ultravioletas afixadas nas pranchetas. Em uma versão da instalação, nenhum som é artificialmente acrescentado, ficando a cargo dos espectadores, ao lerem os textos, fazerem uma espécie de exercício de escuta, tanto com a sua memória quanto com os sons de uma sala silenciosa. Mas há também uma outra versão em que a artista insere alto-falantes escondidos tocando ruídos de computadores (impressora, teclados, ruídos de processamento, etc) que, em amplitude baixa, produzem uma versão contemporânea do silêncio, fazendo referência aos sons que povoam os ambientes que freqüentamos cotidianamente.

Foto da instalação Über die Stille de Christina Kubisch, 1996

Ao dispor textos em uma sala escura e quieta, Christina Kubisch estimula os seus espectadores a exercitarem sua escuta. Para ela, “quando os poetas falam sobre silêncio, eles estão sempre falando sobre escuta. Silêncio significa a mesma coisa que uma escuta concentrada na presença de sons.” (Kubisch 2000: 83). É uma espécie de escuta metafórica da memória, no momento em que se acessa a imaginação. Cada espectador poderia preencher aquele espaço sonoramente da maneira que quisesse, até porque as frases e palavras usadas geravam uma riqueza de interpretações estimulando a escuta e imaginação do espectador, como por exemplo: memória, imaginação, escuta, silêncio.

Detalhe da instalação Über die Stille de Christina Kubisch, 1996

É interessante notar a semelhança conceitual e material de Über die Stille com a instalação Sob Neblina [em segredo] (2007) da artista plástica mineira Marilá Dardot. Nesta última, a artista também utiliza textos cuja temática é o silêncio. As frases vão formando o percurso pelo qual o visitante precisa atravessar para chegar ao fim da instalação, um "luminoso silêncio" , que é marcado pelas frases escritas em jato de areia nas portas de vidro, nem sempre de fácil leitura. Tanto em Über die Stille quanto em Sob Neblina [em segredo] o espectador deve se aproximar dos textos, ou ficar em uma posição determinada, para que possa desvendar o que está escrito. Isto pelo fato do que no primeiro caso o texto é escrito com uma tinta fluorescente que só aparece se iluminado e no segundo pelo fato da artista ter escrito os textos, usando vidro jateado, cuja leitura só é efetivada com a insistência do observador em achar posições possíveis de visualizar o texto em função de uma iluminação tênue que ora incide diretamente no vidro, eliminando o contraste, ora é insuficiente para a leitura.

Detalhe da instalação Sob Nebliuna [em segredo] de marilá Dardot, 2007

Em Sob Neblina [em segredo], o ambiente também é silencioso, e em todas as frases esse tema é recorrente. Em um certo sentido, percorrer a instalação assemelha-se a passar por uma publicação, como se estivéssemos ‘atravessando as páginas’. É interessante, pois nos dois trabalhos a imersão toma conta da experiência, podendo tornar o percurso um tanto ritualístico. No caso do trabalho da Marilá Dardot, é na própria leitura de cada frase que o caminho se realiza: a cada porta que se abre, até que se chegue ao fim, realiza-se um exercício do silêncio.
Ambos os trabalhos, de certa forma, impõem uma experiência silenciosa, como também recorrem à memória e bagagens pessoais dos espectadores, na medida em que trabalham com frases abertas e ambíguas, na tentativa de despertar a imaginação e as diferentes escutas do espectador. E para reforçar essa sensação os dois trabalhos usam ambientes altamente silenciosos.

Jacques Rancière

Ora corredores e labirintos habitados por alto-falantes e telas, ora espaços abertos naturais de vasta amplitude, ora paisagens interferidas por sons extrínsecos, ora objetos plásticos que formam uma arquitetura e esculpem um espaço. Eles são também instrumentos de produção de imagens e sons, de superfícies onde eles se difundem, mas ainda metáforas das atividades que os produziram, com a intensidade de sua maneira de criar mundos. Sobre essas superfícies, dentro desses volumes, restos de história vão e vêm, engendrados pelos sons, programados por passantes que se deslocam sobre o espaço. (Rancière 2002: 25)

Rizoma e formas de apresentação

Caro Funes,
talvez esse software possa ser interessante.

http://www.thebrain.com/#-50

Oralidade

Paul Zumthor afirma que a voz da tradição, isto é, a poesia oralizada, funciona como o fio que dá visibilidade e sustenta a frágil continuidade da vida humana, é a poesia oral que impede que os laços metafísicos do homem se rompam e advenha o abismo sem sentido e sem nome: a morte (ZUMTHOR, 1993: 142).

Esquizofonia

Termo criado pelo compositor canadense Murray Schafer para se referir ao som deslocado de sua fonte emissora.
A pedidos:
"Formado pela justaposição de esquizo, do grego schízein, fender, separar; e fonia, do grego phoné, som, voz". (Obici, G. Condição da Escuta, p. 47)

Esse conceito de separação do som de sua fonte geradora não é um dado sintomático que surgiu com a invenção de tecnologias de captação sonora (o fonógrafo, em 1877, por exemplo). Esses equipamentos traziam a possibilidade de encapsular e guardar som, por assim dizer, criar memórias artificiais.

"Com o telefone e o rádio, o som já não estava mais ligado ao seu ponto de origem no espaço; com o fonógrafo, ele foi liberado de seu ponto original no tempo". Schafer [1977] (2001).

Efemeridade da Gravação - Captura de sons

No século XVI, Rabelais em seu livro de Pantagruel escreveu e descreveu uma metáfora sobre os meios de conservar e reproduzir os sons e as palavras.

'Memory Space' - Simon Emmerson

I. MEMORY AND SPACE

Space is not simply a geometric ‘thing out there’. We are born with sight and sound, touch, taste and smell ready to initiate our particular construction of it. Space would not be perceptible without objects, textures, sounds. The sonic arts have tended to separate out taste and smell (although they have crept back in in recent more open social musical spaces) – and touch, too, unless you are a performer.

But memory is also spatial in two senses. Neuroscience is slowly unlocking the secrets of the most complex system observable by us – the human brain. But the nature of memory within the brain is not much understood – except that the questions are becoming more sophisticated and it is evidently distributed in many locations. But there is also a deeper link which has been exploited over some thousands of years – most extensively before writing (and more specifically printing) allowed us a short cut.

This is best described in classical, mediaeval and renaissance practices of mapping places, images and other objects of memory onto an imaginary stage in the mind – the so-called Memory Theatre. This was most especially examined in Frances Yates’s book The Art of Memory (1966/1992 [Reference 4]). Starting from ideas of rhetoric inherited directly from the Greeks through Roman sources we start from the idea that natural
memory can be improved or augmented through the exercise of ‘artificial memory’. This is created from places and images. A place (locus) is easily memorised – a construction, a characteristic location. Images are
‘forms, marks or simulacra of what we wish to remember’ [Reference 4: p.22]. There have been developed rules for places and rules for images. The loci relate to each other such they can be walked through in the imagination and even a particular building is to be seen as the best recepticle for the totality of the loci. Each fifth locus is given a particular mark in its characteristic. The building should be empty since crowds might distract! This allows us to construct two kinds of artificial memory - memory for things and memory for words. ‘Things’ are not objects in the contemporary sense but can include the subjects of speech - ‘the ideas we are trying to express’ - while words are simply (but importantly) a vehicle to convey that and often have to be memorised in the ‘correct’ order. In brief, the art of artificial memory lies in the direct association of image with locus and the ability to recall one through ‘visiting’ the other. By the Renaissance period the building within which the memory locations were found was very often constructed as a kind of theatre with five doors, five columns and other easily memorised characteristics. Yates discusses many of these examples and their complex historical interconnections – including highly dangerous rivalries, accusations of magic, heresy and the like – such as those of Giordano Bruno (late 16th C) and Robert Fludd (early 17th C).

http://www.smc08.org/index.php?option=com_content&task=view&id=34&Itemid=39

"O neurocientista que ninguém esquece" ganhou o prêmio Conrado Wessel 2008 na categoria Ciência Geral

http://revistapesquisa.fapesp.br/?art=3669&bd=1&pg=1&lg=

A arte de esquecer

Link que resume as idéias do livro de Izquierdo.

http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40142006000300024&script=sci_arttext

Funes para Izquierdo

"Funes, o memorioso relata a história de um rapaz uruguaio do interior, que, a partir de um acidente, ficou com uma memória perfeita. Podia recordar a cor exata das nuvens na hora em que tal ou qual acontecimento preciso teve lugar. Podia recordar, em detalhe, a forma dos galhos de uma árvore num dia de vento. Podia recordar com precisão total um dia inteiro de sua vida. Claro que, para este último, necessitava de um dia inteiro... Sua extraordinária capacidade, entretanto, não lhe permitia deter-se por um momento sequer numa determinada memória e analisá-la, comparando-a com outras. Borges, que inventou este personagem, raciocinou que a extrema exatidão e abundância de sua memória, que o impediam de esquecer qualquer detalhe, impediam-n0 também, justamente por isso, de poder generalizar e, portanto, poder pensar. Para pensar, diz Borges, é necessário poder esquecer, para assim poder generalizar."

Por que e para que esquecemos?


"Esquecemos, talvez, em parte porque os mecanismos que formam e evocam memórias são saturáveis. Não podemos fazê-los funcionar constantemente de maneira simultânea para todas as memórias possíveis, as existentes e as que adquirimos a cada minuto. Isso obriga naturalmente a perder memórias preexistentes, por falta de uso, para dar lugar a outras novas. (...) Não sabemos se os mecanismos através dos quais se guardam no cérebro os elementos principais de cada memória são ou não são saturáveis. É até possível que não o sejam, já que há tantos neurônios e tantas conexões entre eles. (...) Mas há inúmeras evidências recentes de que, na hora de sua formação e na hora de sua evocação, os sistemas cerebrais que se encarregam das memórias de longa duração, fundamentalmente uma estrutura do lobo temporal chamada hipocampo, são altamente saturáveis." In: "A arte de Esquecer" (2004: 21-22)

Lembrar é possível, esquecer é preciso!

Iván Izquierdo, médico e neurocientista.

Memória de elefante ou memória de Funes?


"Então vi a face da voz que toda a noite havia falado. Ireneo tinha dezenove anos; havia nascido em 1868; pareceu-me tão monumental como o bronze, mais antigo que o Egito, anterior às profecias e às pirâmides. Pensei que cada uma das minhas palavras (que cada um dos meus gestos) perduraria em sua implacável memória; entorpeceu-me o temor de multiplicar trejeitos inúteis."

Funes medíocre

"Havia aprendido sem esforço o inglês, o francês, o português, o latim. Suspeito, contudo, que não era muito capaz de pensar. Pensar é esquecer diferenças, é generalizar, abstrair. No mundo abarrotado de Funes não havia senão detalhes, quase imediatos."

Fofocando

Aqueles três ali em baixo estão falando mal de alguém?

11.10.08

La bottiglia


Concurso Handled to Care

O material desse concurso de design era a cerâmica. Selecionei alguns que podem nos inspirar. Podem ser estranhos ou curiosos...

futurefactories (lionel theodore dean), uk
http://www.futurefactories.com/

manolo bossi, italy
http://www.manolobossi.it/

farrah sit, usa
http://www.farrahsit.com/

Fofocando

Funes in the bottle

La bouteille

Mostra SESC de Artes

Branca de Neve
João César Monteiro
Portugal
Cinema Um filme sem imagens. Com a tela escura o tempo todo, ouvem-se apenas as vozes dos atores interpretando o poema do escritor suíço Robert Walser, uma versão moderna de 'Branca de Neve'. A história começa exatamente onde termina o relato dos irmãos Grimm. O diretor declarou que as crianças conhecem os contos de fada na forma oral e não visual, daí a opção por não encenar a trama. De 2000, 75 min. CineSESCDias 9 e 11, quinta, 21h, e sábado, 19h. Preços: quinta: R$10; R$5; R$2,50, sábado: R$12; R$6; R$3.


Play-Me, I’m Yours [Toque-Me, Sou Teu]
Luke Jerram
Inglaterra
InformaçõesImagensObraSite do artista
Em março de 2008, quinze pianos foram entregues para as ruas de Birmingham, no Reino Unido. Os instrumentos estavam livres para qualquer pessoa apreciá-lo e usá-lo. Apenas um sofreu vandalismo. Os demais mexeram com a comunidade local, que passou a personalizar os ‘hóspedes’ da cidade.


O site www.streetpianos.com foi criado para o público para postar seus comentários sobre sua experiência, formando uma grande comunidade web. Agora chegou a vez de São Paulo. Depois da Mostra SESC, os pianos serão doados para escolas e grupos comunitários da cidade. Em janeiro de 2009 Play-Me, I’m Yours estará na Austrália. Para que o projeto seja instalado em países mais pobre, Jerram criou um fundo especial que patrocina as viagens.
Luke Jerram é inventor, pesquisador e cientista amador. Enfim, um homem interessado em explorar o mundo. Ele questiona conhecimentos, idéias e quer partilhar o seu entusiasmo e o seu espanto sobre o mundo que nos rodeia.
Play-Me, I’m Yours [Toque-Me, Sou Teu]
Artemídia / Música / Intervenção

Pianos distribuídos em diversas regiões da cidade interferem no cotidiano visual e sonoro do espaço público. Livres para a apropriação e gestão da população, os pianos são vinculados através um site da internet que permite ao público postar registros das intervenções nos instrumentos. Lívio Tragtenberg e artistas convidados realizarão performances nos pianos ao longo da Mostra SESC de Artes 2008. Livre.

Confira o local exato dos pianos no site www.pianosderua.com.br. Atenção: os pianos estarão instalados nas redondezas das unidades abaixo:
SESC Vila MarianaDe 8 a 18. Segunda a domingo, durante todo o dia
Rua Pelotas, 141Tel.: 5080-3000email@vilamariana.sescsp.org.br
SESC ConsolaçãoDe 8 a 18. Segunda a domingo, durante todo o dia
Rua Dr. Vila Nova, 245Tel.: 3234-3000email@consolacao.sescsp.org.br
SESC PinheirosDe 8 a 18. Segunda a domingo, durante todo o dia
Rua Paes Leme, 195Tel.: 3095-9400email@pinheiros.sescsp.org.br
SESC CarmoDe 8 a 18. Segunda a domingo, durante todo o dia
Rua Carmo, 147Tel.: 3111-7000email@carmo.sescsp.org.br
SESC SantanaDe 8 a 18. Segunda a domingo, durante todo o dia
Avenida Luiz Dumont Villares, 579Tel.: 2971-8700email@santana.sescsp.org.br
SESC Santo AmaroDe 8 a 18. Segunda a domingo, durante todo o dia



Signs of Memory [Sinais da Memória]
Takafumi Hara
Japão
InformaçõesImagensSite do artista
A troca de informações entre artista e habitantes de locais em que Signs of Memory passa transforma-se em diálogo entre habitante e espectador, entre o privado e o público. Desde 2004, Takafumi Hara já apresentou o projeto no Japão, Alemanha e Singapura. Ele nasceu em Tóquio, em 1968, e hoje vive e trabalha entre o Japão e Berlim (Alemanha). Em 1998, se formou em pintura na Tama Art College. Em 2000 foi estudar na Weissensee Art College (Berlim). Apoio: Centenário da Imigração Japonesa no Brasil, Yoichiro Kurata e Yumie Wada (Wada Fine Arts, Tóquio).



Signs of Memory [Sinais da Memória]
Artes Visuais

O projeto Signs of Memory surgiu em 2000 e já foi realizado em aldeias, bairros e ruas de cidades de alguns países, com a colaboração de pessoas sem qualquer experiência artística. O contato com a população local está sempre no centro desse projeto, na medida em que as memórias ouvidas formam a base do trabalho artístico. Desenhos e textos ilustram painéis coloridos que são expostos nas janelas do lugar. Curadoria Tereza de Arruda. Livre. Grátis.
SESC PinheirosDe 8 a 19, terça a sexta, 10h às 21h30. Sábado e domingo, 10h às 18h30

Símbolo


I pensionati della memoria, 1914

Os aposentados da memória, de 1914, é uma novela de Luigi Pirandello que conta a história de um homem que é assombrado pelas lembranças daqueles que já morreram. Abaixo, um trecho:
[...]
Quanto a mim, todos os mortos que acompanho ao campo-santo retornam atrás de mim.
Fingem que estão mortos dentro do caixão. Ou talvez de fato estejam mortos para si. Não para mim, acreditem! Enquanto tudo termina para vocês, para mim nada terminou. Todos retornam comigo, para minha casa. A casa está cheia. Acreditam que estão mortos. Mortos nada! Todos vivos. Vivos como eu, como vocês, mais do que antes.
No entanto - isto sim - estão desiludidos.
Porque, pensem bem: que parte deles pode estar morta? Aquela realidade que eles deram - nem sempre igual - a si mesmos, à vida. Oh, uma realidade muito relativa, acreditem. Não era a de vocês, não era a minha. Com efeito, eu e vocês vemos, pensamos e sentimos, cada qual a seu modo, a nós mesmos e à vida. O que significa que atribuímos, cada qual a seu modo, uma realidade a nós mesmos e à vida; nós a projetamos para fora e acreditamos que, assim como é nossa, também é de todos; e alegremente vivemos em meio a ela e caminhamos seguros, com a bengala na mão e o charuto na boca.
Ah, meus senhores, não confiem demais! Basta apenas um sopro para levar embora essa realidade! Não vêem que ela muda dentro de vocês continuamente? Muda assim que se começa a ver, a ouvir e a pensar um tantinho diferentemente de antes; de modo que, o que antes lhes parecia ser a realidade, agora percebem que era uma ilusão. Mas será que há outra realidade fora dessa ilusão? Mas o que é a morte senão a desilusão total?
Mas aí esta: se há tantos pobres desiludidos entre os mortos, devido à ilusão que formaram a respeito de si e da vida, por esta ilusão que deles ainda conservo lhes pode advir o consolo de viverem para sempre, enquanto eu viver. E eles aproveitam! Garanto que aproveitam.
[...]
Impossível não se lembrar de Shakespeare e de Deleuze ao ler o penúltimo e o último parágrafos, respectivamente. A tradução do texto é de Maurício Santana Dias e se encontra num volume daquela coleção de contos e novelas que a CiadasLetras tem publicado nos últimos anos.

10.10.08

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Esse é um dos produtos divertidos que se encontram nas lojas Fred&Friends. Abaixo, o link:

Outros meios ou FiatLux












Dois Palitos, de Samir Mesquita, é uma caixinha de fósforos que, no lugar deles, contém cinqüenta contos curtíssimos, na forma de um microlivro. Impossível não se lembrar de uma certa garrafa que, no lugar de líquidos, transportava histórias.

Homônimos

Há um blog português que, assim como este, trata sobre a memória e, surpreendeu-me a coincidência, também é assinado por Funes, o memorioso. Abaixo, o link:

The bottle imp...
























Não podemos nos esquecer de que as garrafas foram a morada preferida de gênios e diabretes, sempre prontos para realizar nossos desejos e sempre prontos para cobrar por aquilo que desejamos...


Nicht vergessen












Recordo-o...